27 de janeiro de 2009

Nossa Criança Interior

Todos nós temos uma criança interior...


O primeiro passo no processo de individuação (processo de desenvolvimento da totalidade, o tornar-se si mesmo) é explorar a persona, ou seja, a forma pela qual nos apresentamos e nos relacionamos com o mundo, incluindo nossos papéis sociais.

O termo persona é derivado da palavra latina equivalente à máscara, que se refere às máscaras usadas pelos atores no drama grego para dar significado aos papéis que estavam representando. E o primeiro passo no processo de individuação é o desnudamento da persona, pois conforme vamos desenvolvendo máscaras para nos defendermos, ao mesmo tempo acabamos por nos afastar de quem realmente somos, de nosso self (personalidade total, verdadeiro eu).

Começamos a desenvolver essas máscaras desde crianças, ou seja, a criança quando não é aceita da maneira que ela é, passa a ser como esperam que seja, ou tentando ser o mais próxima possível das expectativas que criaram para ela, mas que na verdade não é sua essência. Esse afastamento com o tempo pode ser a origem de muitos conflitos e vazios.

Por exemplo, uma criança que quando foi gerada e durante toda sua gestação o pai ou a mãe desejava muito que fosse um menino e ao nascer a frustração de um deles foi muito grande ao saber que era uma menina; essa criança desde pequena, com o intuito inconsciente de agradar esse pai ou mãe, passa a agir, vestir e brincar como um menino, buscando corresponder às expectativas externas. E assim vão sendo criadas as máscaras, como a única forma que encontra de ser aceito.

Como a persona se estrutura conforme o ambiente, como se fosse uma couraça protetora que nos defende das agressões externas, essa couraça vai ficando cada vez mais espessa para conseguir suportar a realidade. São aqueles adultos que com os quais nos deparamos - ou somos - rígidos, inflexíveis, onde nada parece os atingir. É como se o "eu verdadeiro" ficasse soterrado no fundo da pessoa, embaixo de muitas camadas de mágoas, ressentimentos, humilhações, desprezo, criando uma verdadeira muralha que os afastam de quem são verdadeiramente.

Quantos não vestem uma máscara sorridente durante o dia inteiro, mas quando voltam para casa à noite, choram até o dia seguinte? São adultos que enquanto crianças desenvolveram a arte de não sentir seus sentimentos, pois uma criança só pode ter e expressar seus sentimentos quando existe ali alguém que os possa aceitar completamente, sem críticas, julgamentos, comparações, entendendo-a e dando-lhe apoio.

Não tendo quem suportasse com ela suas dores, não aprendeu a se ouvir, se respeitar, como se tudo que sentisse fosse errado, com a sensação que não devia sentir o que sentia, desenvolvendo assim, um falso eu e, quando adulto, ignora seus sentimentos mais íntimos como aprendeu na infância. Vive em função do externo, buscando sempre uma forma de preencher esse vazio, seja através das drogas, sexo, comida, poder, trabalho, tudo para não entrar em contato com seus reais sentimentos, pois em alguma época aprendeu que isso era errado e aprendeu a ignorar também o que sentia.

Ser ferido quando criança, porque seus pais não permitiam que você fosse quem era, foi a pior coisa que poderia acontecer, fazendo com que aprendesse que não era certo ser você mesmo. Não era certo pensar o que você estava pensando, querer o que você queria, sentir o que você sentia ou imaginar o que imaginava. Às vezes não era certo ver o que você via ou sentir o cheiro que estava sentindo. Enfim, não era certo ser você.

Assim, muitas pessoas acreditam que não há nada além dessa máscara. É quando se faz necessário compreender o que aconteceu com essa criança, sob que condições e por quais motivos essa couraça foi desenvolvida, e que se justifica a importância do trabalho do resgate da criança interior e do qual pode ser realizado pelo processo de individuação, que geralmente ocorre através da análise.

Mas se quando adulto continua a ignorar os sentimentos e necessidades dessa Criança, perde a conexão com ela, fazendo-a confirmar que não é amada. Com isso ela conclui que deve ser muito má, errada, indigna de ser amada, insignificante, inadequada, caso contrário, não teria sido abandonada, primeiro pelos adultos da realidade exterior, pais, avós, e depois, por seu próprio Adulto Interior, ou seja, por você, hoje.

Ela aprende a temer ser rejeitada e abandonada e, com o tempo, pode acabar projetando nas outras pessoas essa vivência de abandono, acreditando quase o tempo todo que será abandonada ou rejeitada a qualquer momento, ainda que de fato isso possa não estar acontecendo. Então, tudo o que passa a fazer é com o intuito de evitar esse abandono ou rejeição, muitas vezes aceitando relações destrutivas, doentias, humilhando-se sempre por migalhas de amor.

Máscara esmagada

Como disse a analista junguiana Marion Woodman, a qual resume muito bem esta reflexão: "Se vivemos atrás de uma máscara durante a nossa vida inteira, cedo ou tarde - se tivermos sorte - essa máscara será esmagada. Então será preciso que olhemos no espelho, enxergando nossa própria realidade. Talvez fiquemos apavorados. Talvez estejamos então olhando para os olhos aterrorizados de nossa própria criancinha, daquela criança que nunca conheceu o amor e que agora suplica atenção. Essa criança está sozinha, ficou esquecida antes mesmo de sairmos do útero, no próprio momento do parto, ou quando começamos a fazer as coisas para agradar aos nossos pais e aprendemos a manejar nossas melhores atuações para ganhar aceitação. À medida que a vida avança, continuamos a abandonar a nossa criança procurando agradar aos outros. Essa criança, que é a nossa própria alma, implora, por baixo do burburinho da nossa vida, muitas vezes imersa no cerne do nosso pior complexo, que digamos: você não está sozinha, eu amo você".

Faça uma reflexão sobre tudo isso, o quanto pode se relacionar com sua própria história, o quanto você se sente distante de si mesmo, quantas são as máscaras que desenvolveu em busca de aceitação e reconhecimento, que espera até hoje, o quanto ainda age com a intenção de agradar a todos, sem importar-se com seus reais sentimentos. E por falar em sentimentos, onde estão seus reais sentimentos?...
por Rosimeire zago

A Importancia da Psicoterapia


A Importância da Psicoterapia

OS OBJETIVOS

A psicoterapia é um valioso recurso para lidar com as dificuldades da existência em todas as formas que o sofrimento humano pode assumir: manifestações sintomáticas (pânico, ansiedade, depressão, fobias, anorexia, etc.), crises pessoais, crises de relacionamentos, conflitos conjugais e familiares, distúrbios psicossomáticos, dificuldades nas transições da vida, crises profissionais, etc.

A psicoterapia é também um espaço favorável ao crescimento pessoal, um lugar/tempo/modo privilegiado de criar intimidade consigo mesmo, de estabelcer diálogos construtivos, questionar, abrir novos canais de comunicação, de transformar padrões de funcionamento estereotipados, restabelecendo o processo formativo e criativo de cada um.

A Psicoterapia oferece uma oportunidade de compreender os próprios modos de vinculação e relação interpessoal. Este processo acontece dentro de uma relação saudável com um profissional qualificado.

A EVOLUÇÃO

A psicoterapia ocupa hoje um lugar fundamental na área da saúde, por trazer uma visão integrada do homem, considerando as dimensões orgânicas, psíquicas e sociais que conjuntamente participam na produção da existência humana e de seus problemas.

Em alguns casos, a Psicoterapia cumpre também uma função de educação para a vida. Esta é uma área pouco considerada em nossa cultura, porém evidente quando as pessoas se vêem inaptas para lidar com situações como crises conjugais, desemprego, envelhecimento, etc.

A psicoterapia é um espaço especial de atenção às dificuldades da vida e aos caminhos internos para solucioná-los. Seus resultados demonstram uma grande potência de transformação de vidas.

Todos os últimos avanços na área da Psicologia e Psicoterapia têm permitido alcançar resultados cada vez maiores e mais significativos.

Apesar de poder parecer, à primeira vista, um tratamento oneroso, a psicoterapia tem se mostrado, na realidade, um modo econômico de tratamento. Pesquisas indicam que a aplicação efetiva da psicoterapia diminui os índices de consumo de medicamentos e de internações hospitalares, por exemplo. (1) Além de todos os benefícios que traz para a saúde psicológica da pessoa, melhora da qualidade de vida, aquisição de autonomia, e uma nova orientação em relação à vida, a psicoterapia tem se mostrado um tratamento economicamente compensador, por prevenir e tratar problemas psicológicos que, quando não tratados adequadamente, trazem enormes prejuízos econômicos para as pessoas e para o país.

OS PRAZOS

No geral, os prazos de tratamento são relativos aos objetivos almejados. Há vários desenvolvimetos recentes em psicoterapias breves, que são focadas em objetivos mais específicos.

Atualmente é possível atingir resultados significativos em períodos de 3 meses a 12 meses e há muitos processos terapêuticos profundos que se encerram satisfatoriamente em prazos inferiores a 3 anos. Muitas pessoas já obtém resultados significativos nas primeiras semanas de tratamento, compensando os investimentos realizados.

Algumas pessoas encontram na terapia um lugar fundamental de acompanhamento de seu processo formativo de vida, onde são trabalhados transformações mais profundas na estrututura de vida ao longo de vários anos. São situações em que o processo terapêutico não tem um prazo definido, por não ter um objetivo pré-determinado e sendo sempre em comum acordo entre o terapeuta e o cliente.

ALGUMAS APLICAÇÕES

Várias estados de sofrimento, crises, transtornos e doenças tem encontrado uma solução e melhora apenas com o auxílio da psicoterapia.

Não é possível hoje se falar na maior parte das doenças sem uma consideração pela dimensão psicológica e emocional. Cada vez está mais evidente a natureza psicossomática de todas as experiências humanas. A saúde psicológica é pré-condição da saúde global.

Cada ser psicossomático vive uma história de interações, encontros e acontecimentos em que as doenças (orgânicas ou mentais) são resultado dos desequilíbrios existenciais e de soluções inadequadas de vida.

A psicoterapia é um processo que permite transformações profundas da personalidade, com resultados evidentes em diversas situações como:

tratamento de vários transtornos como pânico, fobias, depressão, anorexia, bulimia, frigidez, ejaculação precoce, etc.
resolução de conflitos pessoais, interpessoais, conjugais, familiares, profissionais etc.
crises existenciais, transições difíceis (luto, crises profissionais, etc) e mudanças de fases de vida (puberdade, adolescência, vida adulta, menopausa, envelhecimento, etc.)
aprendizado do auto-gerenciamento, da capacidade lidar com o estresse, dialogando com os estados afetivos internos e os efeitos dos desafios e problemas da vida.
descoberta de novos modos de conduzir a própria vida.
aquisição de auto-conhecimento e amadurecimento pessoal.
ajuda na recuperação de todos os tipos de doenças.

OS TIPOS DE TERAPIA

Há alguns tipos de psicoterapia, conforme as necessidades e a configuração dos problemas.

Os principais tipos são:

Psicoterapia Individual para crianças, adolescentes, adultos e idosos.
Psicoterapia de Grupo
Psicoterapia de Casal
Psicoterapia de Família
e Dependentes


O PROCESSO TERAPÊUTICO

O processo terapêutico é como atravessar um túnel. Neste túnel você vai rever muitas cenas da historia da sua vida de um ângulo completamente novo, fazendo conexões inusitadas entre os eventos e percebendo a potência do passado para moldar quem você é hoje.

Na travessia deste túnel você vai aprender a reconhecer os seus padrões de comportamento - os modos que fazem com que você se comporte de modo parecido em situações diferentes. Você vai aprender a reconhecer o "como" do seu comportamento, como você age, como se relaciona, como pensa, sente, etc e vai aprender quais os caminhos para poder influenciar e transformar estes modos.

Esta é uma travessia acompanhada, acompanhada de alguém que pode ajudar você a se compreender. Alguém que pode te ajudar a transformar o seu jeito de ser, a mudar os seus padrões, a se conhecer profundamente.

Esta travessia pode mudar completamente a sua vida.

O VÍNCULO

Nestes anos, tenho observado que o eixo, a base de uma boa terapia está na relação terapêutica. A boa terapia se desenrola num enquadre clínico com um clima terapêutico favorável.

Aí está um dos segredos desta arte. Criar um ambiente que permita a revelação dos mundos internos e favoreça o desenvolvimento do processo singular de cada um. Neste clima é possível que o ser mais oculto e amedrontado se mostre, seja ouvido, se transforme, que o processo formativo possa prosseguir formando vida.

POR QUE A PSICOTERAPIA FUNCIONA ?

A psicoterapia, ou Psicologia Clínica, funciona, isto é fato. Mas para responder a pergunta acima, existem centenas de livros e pesquisas - necessários pela enorme riqueza e complexidade do tema.

Mesmo assim, como simples exercício de compreensão, vamos listar alguns motivos para a efetividade da psicoterapia, dos mais simples aos mais complexos.

No início da lista, como num continuum, temos aqueles motivos que são comuns a outras relações de ajuda, mesmo não profissioanais, como uma conversa íntima com um amigo, uma conversa sobre um problema pessoal com um professor, um médico, etc. Avançando na lista vamos chegando aos motivos que são mais comuns na psicoterapia, até aqueles que são exclusivos da psicoterapia, que são possíveis pelo cuidadoso treinamento teórico e técnico adquirido pelo psicólogo em sua trajetória de formação profissional. Eis o continuum com alguns motivos pelos quais uma psicoterapia funciona:

1 Ao dividir um problema você passa a ter meio problema. Compartilhar ajuda a aliviar a carga emocional e o sofrimento

2 Os vínculos de ajuda têm um poder curativo. É mais fácil superar muitas dores através de uma relação autêntica, de respeito mútuo do que sozinho. A relação terapêutica é uma relação de ajuda, de compreensão e apoio.

3 A psicoterapia faz você parar para refletir sobre a própria vida. Parar, observar e refletir permitem muitas mudanças de orientação, sentido, rumo e aprofundamento da experiência de vida.

4 O psicólogo clínico (psicoterapeuta) é um outro, com o olhar e a perspectiva de um outro, o que lhe ajudará ver a sua vida de um modo diferente, lhe fazer perguntas diferentes, ajudá-lo a perceber as coisas de um ângulo que você não tinha visto antes e nem suspeitava ser possível.

5 A partir de sua experiência profissional e de seus conhecimentos teóricos, o psicólogo te ensina o que olhar, como olhar e o que fazer com o que vocês descobrem, para que estas descobertas possam ser construtivas em sua vida.

6 O psicoterapeuta conhece métodos de investigação que tornam possível descobrir aspectos da sua personalidade que seriam inacessíveis a uma observação não treinada, a uma simples conversa, por exemplo.

7 O psicoterapeuta conhece teorias psicológicas que ajudam na compreensão do que ocorre com você, auxiliam a identificar o que pode estar errado em sua vida, a direção que voce está seguindo e as mudanças de rumo necessárias.

8 O psicoterapeuta domina técnicas terapêuticas que permitem realizar mudanças profundas na existência.

9 O psicoterapeuta está preparado para compreender você a partir do vínculo que você estabelece com ele, das respostas emocionais que você suscita nele. Em seu treinamento ele afinou a si mesmo como instrumento de trabalho para reconhecer pequenas nuances do que você mostra na relação com ele (e com os outros) e assim poder compreender seus modos de vinculação e suas dificuldades em relacionamentos.

10 O psicoterapeuta passou por todos estes passos anteriores, tendo estado em todos os papéis, como cliente, como profissional e como observador, o que o habilita a "sentir-se em casa" em situações difíceis e poder caminhar por terrenos inóspitos, cheios de sofrimento e problemas emocionais e saber encontrar um caminho de melhora para o seu cliente.

Certamente esta lista pode ser extendida, mas pretendemos apenas dar uma idéia ao público leigo do trabalho da Psicologia Clínica numa linguagem diferente daquela do universo teórico, técnico e científico da Psicologia.


1- Gabbard, G O; Lazar, S G; Hornberger J; Spiegel D. (1997). Economic Impact of Psychotherapy: A Review. The American Journal of Psychiatry, vol 154:2 p147-155; Gabbard, A. (2001) Empirical Evidence and Psychotherapy: A Growing Scientific Base. The American Journal of Psychiatry, Volume 158(1), 1-3)

2 - Hanns, L A (2004) Regulamentação em Debate. Psicologia: Ciência e Profissão - Diálogos, ano 1, vol 1, p 6-13